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sábado, 29 de maio de 2010

Apego


Você tocou meu coração bem daquela maneira que eu não queria. Não sei se é necessidade ou solidão, mas te deixei entrar sem querer dentro daquele espaço privativo.
Na porta estava escrito "Não pertube". Você, teimoso, entrou fazendo bagunça em tudo que já estava arrumado. Não pude me defender, pois estava sozinha. Então me puxou pelo braço para junto de si. Suas mãos me envolveram num abraço e seu rosto macio se roçou ao meu. Pude sentir o cheiro da sua respiração, e ouvir as batidas do seu coração. Isso me fez sentir segura, pois estava tão nervoso quanto eu.
Não temos certeza do que estamos fazendo, mas não quero parar. Não sei se é sentimento, mas você já está aqui.
Foi um grande golpe contra mim mesma deixar a solidão morar aqui. Ela me traiu - foi embora quando você chegou e passei a não saber como lidar com isso, pois ela nunca me ensinou sobre a sua existência.
E posso falar agora, só uma coisa:
- Querido apego, seja bem vindo!

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Empiricamente mortais, sentimentalmente imortais


Por que se esconder se ela nos cerca por todos os lados? Por que a transformamos num tabul, se sabemos que algum dia vamos encontrá-la?
Sim, estou falando dela, a morte. Eu sei, todos nós sabemos, de algum modo estranho: a eternidade está dentro de nós. Ela nos chama e mostra que existe em cada atitude nossa. Somos seres eternos de alguma forma, mas simplesmente questionando a nossa certeza e nossa natureza eterna ali está ela, contrariando tudo e fazendo com que nós, os vivos, desapareçamos de repente do ciclo que chamamos vida.
E aí, o que escolher? O que vemos ou o que sentimos?
Dentro de nós sabemos que somos eternos, fora vemos a morte agindo a cada dia mais em nosso próprio corpo. E o ser humano se confunde mais uma vez entre o empírico e o sentido. Agimos a cada dia com a certeza de que vamos viver para sempre: acumulamos coisas e materiais para aproveitarmos mais tarde, deixamos de falar hoje o que pensamos para dizer isso algum outro dia, deixamos de ajudar alguém hoje por sabermos que amanhã ainda estará lá para ajudarmos. Não são essas provas que nos achamos imortais?
Mas a concretude da morte desafia o nosso sentimento imortal...
Pessoas se arriscam para se eternizarem na história, cientistas tentam de todas as formas achar maneiras de prolongar a vida humana, artistas colocam tudo de si em suas obras para serem lembrados postumamente.
Só o ser humano tem a capacidade entre todos os outros seres humanos de saber que a morte de fato existe e sofrer antecipadamente com ela, ou com a presença dela ao seu redor. Por que? Não há algo de muito estranho em tudo isso? Por que não podemos nos habituar com esse processo como se fossemos parte desse ecossistema?
Não pode ser por acaso que somos os únicos com esse dom (ou esse castigo) do conhecimento. Não é por nada que a história da “queda do homem” é contada em várias culturas: o ser humano era eterno e inocente, mas preferiu o conhecimento do bem e do mal, caiu e se tornou mortal...
Vai ver a morte, por mais concreto que seja, é apenas uma realidade aparente. Vai ver somos seres eternos assustados e confusos por não sabermos quem somos realmente. Chata mania nossa de acreditarmos apenas no que vemos, como se os sentimentos e intuições não fossem parte de nós e não nos ajudassem em nada.
Empiricamente mortais...
Sentimentalmente imortais...
E então, no que você, de fato, acredita?