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quinta-feira, 19 de abril de 2012

Presente de Grego


Devo te avisar  que a saudade que você me deu de presente de despedida quando fui embora, foi na verdade um presente de grego.

A embalagem era linda. No papel era impresso todas as nossas lembranças, dos momentos intensos, carinhosos e inesquecíveis que tivemos. Depois que desembrulhei, encontrei uma caixa preta, opaca, que mostrava a incerteza do futuro, as dúvidas sobre o que realmente quero. Quero realmente abrir esta caixa e ver a saudade que há aqui dentro ou quero embrulhar de novo o presente, com aquela linda embalagem?

Inevitável. Abri a caixa. Estava vazia. E aquele vazio me encheu, essa falta de você passou a crescer gradativamente E então, hoje tento de todas as formas me livrar desse presente estranho, mas seria falta de educação, já que você o deu a mim. Mas ele me incomoda tanto, que às vezes, lembrar da embalagem bonita das lembranças, só piora a situação.

Então, descobri um método: encho-me de afazeres, de coisas a pensar e problemas a resolver. Tento criar outras lembranças, distrair-me com meu mundo novo e deixar esse presente de lado, guardado em algum lugar lá no fundo, para que pare de me atazanar.

Mas aí, quando a noite chega, deitada na minha cama, não são os afazeres e nem o meu novo mundo que me faz dormir em paz. Por isso, eu tomo nas minhas mãos aquela saudade, abraço-me a ela, apago a luz, fecho os olhos e então durmo tranquila. Porque nessa hora a saudade não é um vazio, mas sim o único pedaço que tenho de você aqui comigo.

terça-feira, 20 de março de 2012

Dopamina


Oi. Meu nome é Paula. Estou limpa há 5 dias.
A primeira vez que eu entrei em contato com essa droga, eu era muito, mas muito nova mesmo. Um garoto da escola me ofereceu e ele era o mais bonito e popular da classe, eu não poderia negar.
No começo foi tudo de boa, eu estava curtindo um "barato muito loco". Você sente uma palpitação, um frio na barriga, uma alegria extrema. Tem aquela vontade de nunca mais deixar de sentir toda aquela euforia. Esquece todos os problemas e quase todas as suas atitudes passam a ser feitas sob o efeito da dopamina.
Mas uma hora ou outra os efeitos colaterais da droga começam a aparecer. Vem a tristeza o sentimento de rejeição e aí você se pergunta: "por que isso aconteceu?" . E aí pensa consigo: "Eu vou parar com isso".
Quantas vezes já falei isso e quantas vezes caí no vicio de novo? Eu não quero mais voltar para a dopamina, mas parece que por onde eu olho tem viciados que insistem em oferecer essa droga pra quem faz de tudo para largar o vício. E, quando não oferecem, por querer ou sem querer, me pego indo em busca disso.
Mas, claro, estou aqui porque tenho esperança de sair do vício da dopamina, ou como todos chamam, paixão. E vou seguindo assim, um dia de cada vez.
Hoje eu não me apaixonei. Eu acho.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Eu gosto.


Gosto do seu sorriso, da maneira que você ri quando eu digo algo engraçado. É um riso solto, corrido e ao mesmo tempo discreto, que me dá vontade de ser mais engraçada, para que você possa rir sempre mais e mais.
Gosto do seu jeito discreto - tudo aquilo que não sou - e da sua maneira de se portar, todo atento. Você não é de chamar atenção para si, mas chama a minha atenção, pois gosto de te observar observando aqueles detalhezinhos pequenos da vida que ninguém vê.
Gosto daquela troca de olhares que temos quando pensamos a mesma coisa. Isso me faz sentir acompanhada.
Gosto da sua voz. Sério. Gosto muito... e acho que nunca vou me esquecer desse som.
A cada vez que compartilha comigo um detalhe da sua infância, da sua família, da sua adolescência, sinto como se me entregasse uma moedinha a mais do seu tesouro valioso. E descobri que sou ambiciosa, pois quero esse tesouro completo.
Eu gosto de te zuar. Ah, isso você já deve ter reparado. Estou tentando descobrir porque eu gosto tanto assim de fazer isso, mas eu não sei. Só sei que gosto.
E até das coisas que deve achar que não gosto, sim, eu também gosto, pois também é disso que te faz ser quem é. Deve ser porque não gosto apenas de estar com você, ou das coisas que faz para mim, e nem fico projetando como você seria se fosse mais “assim” ou “assim”. Eu simplesmente gosto de você porque você é você mesmo.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Acabou.


Acabou.
Quando é percebido que algo tem que morrer dentro da sua vida, não adianta: ou isso morre, ou isso te mata. Eu prefiro matar. Matar todos esses sentimentos que me aprisionam de ser quem eu realmente sou. Tudo aquilo que me torna uma sombra de mim mesma.
Durante a vida, tomamos para nós tantos lixos, e os guardamos, achando que são importantes para nós. Ao longo do tempo, eles estão tão entranhados, escondidos em algumas áreas da nossa vida, que nos confundimos e achamos que nós somos esse lixo.
Não, não aceite ser quem não é. Você não precisa ser o que os outros dizem que você é, não precisa ser como os outros dizem que deve ser e nem se render aos seus sentimentos de culpa, insegurança, medo, dúvida, carência.
Apenas tudo o que precisa fazer é jogar o lixo fora e dizer com toda sua força:
Acabou.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

vieses da bondade



Peço desculpas, mesmo sabendo que estou totalmente certa. Talvez seja meu jeito de te machucar.
Eu não acredito em brigas, só no amor.
E quero te bater com ele até criar um hematoma enorme, para ver se você aprende a amar mais do que eu.
Sei que a melhor forma de fazer isso é olhar nos seus olhos profundos e sussurrar com um sorriso enorme nos lábios: "Eu não te amo mais... mas e aí, tem alguma novidade?"
Desculpe, esse é só o meu jeitinho de mostrar que a bondade tem dois vieses: o remédio e o veneno.
Pronto. Agora é a minha hora de sorrir e ir embora.
E com a consciência tranquila. Afinal, te fiz algum mal?

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Volatilidade



A vida é volátil. Tudo é volátil na vida, principalmente as pessoas que passam por ela.
Onde está o seu melhor amigo de anos e anos, agora?
Cadê sua confidente em que você contava toda as suas aventuras e os seus sonhos?
Ah, sim...verdade... ela anda trabalhando demais, por isso não pode mais te escutar como antes... aah... como se você tivesse muuuiito tempo para parar e contar seu dia para ela...
Mas me diga uma coisa? Onde estão suas aventuras? E seus sonhos, cadê? Ohh... é mesmo... se perdeu naquele dia que o vestibular te disse NÃO... e quando aquele amor da sua vida te traiu... ou quando você foi despedido daquele emprego que ganhava tão bem. Agora você não produz mais sonhos... só deseja.
Ah... e o amor? Verdadeiro e único? Não... você já disse amar tantas pessoas... tantas que já nem acredita que é possível achar uma pessoa para si a vida toda. Por que? Porque assim como tudo já passou na sua vida, você sabe que é bem provável que sua vida sentimental também passe.
Éhh... você olha aquela pessoa que você tanto dizia que amava e agora já nem se lembra mais o que é sentir aquilo que um dia sentiu. Tanto o amor, quanto a raiva. Quem sabe sinta de novo por outra pessoa... quem sabe não. Só sabe que aquilo já passou.
Se tudo na vida, então, é tão volátil assim... respiremos o cheiro de tudo. Ou então guardemos o que é mais perfumado em frascos, antes que tudo passe e o cheiro se acabe. Mas se acabou... pronto... passou... respire de novo. Assim é a vida.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A princesa, a bruxa e a Liberdade - 5. A Torre

Manda estava a postos, em cima de uma árvore. Tinha uma boa mira do porteiro da torre, no lugar em que estava. Com uma flecha envenenada certeira, de uma só vez caiu no chão.
Henrique logo depois passou pelo portão sorrateiramente. A carruagem real chegou. Manda desceu da árvore e logo falou com o cocheiro.
- Tudo pronto? O ouro está?
- Sim, chefe. Tudo feito.
- Perfeito.
O príncipe olhou uma última vez para Manda, que já se encaminhando para o portão. O sorriso dela para ele lhe deu um novo vigor para entrar na torre. Era como um sinal de paz, pelo que acontecera ontem. Entrou.
Estava tudo revirado, fora do lugar. Muitos livros em estantes enormes. Uma parte desses livros estava no chão, nas mesas. As poções ficavam numa outra estante. Algumas delas estavam em cima das mesas, abertas. O lugar parecia abandonado, mas mesmo assim era necessário cuidado, pois a bruxa poderia estar em todo lugar. O silêncio foi cortado pelo coaxar de um sapo. Ao olhar de onde vinha o barulho, viu no chão um vestido velho, de cor preta. Alguma coisa estava estranha ali. Correu para a escada, teve medo de ter chegado tarde. E chegou.
O andar de cima estava vazio. Era lá que provavelmente ficava a princesa. Uma cama humilde, com coxa florida e bonecas de pano. Em cima uma carta. Ele cuidadosamente a pegou e leu.

Sentou-se. Estava pasmo, triste, com raiva de si mesmo. Estava cansada de esperá-lo, por isso foi embora. O quanto teria sofrido nas mãos da bruxa para poder tomar essa decisão? Como ela conseguiu sair da torre? Para onde teria ido? Não sabia o que fazer. Levantou-se e tentou achar qualquer evidência de seu paradeiro. Estava desnorteado.
- Ela deve ter escrito em algum lugar, deixado alguma pista em algum lugar de onde ela está agora.
Procurou na cômoda de roupas. Na primeira gaveta, após revirar vários corpetes e roupas de baixo achou um pequeno caderno. Abriu em alguma parte aleatória e descobriu que era seu diário.

Hoje está chovendo e trovejando. Eu estou com medo. Eu quero chamar meu papai e a minha mamãe. Meu papai e minha mamãe não estão aqui. Eu estou sozinha. A bruxa está lá embaixo.”

A letra parecia bem rústica e a escrita simples. Talvez tivesse feito logo que veio para torre. Folheiou mais uma vez.

Me falaram que um dia um homem iria me libertar da torre. Mas por que todos eles passam e vão embora”.

Folheou de novo. Dessa vez se sentou.

Meus planos estão dando certo. Pelas minhas contas hoje estou fazendo 17 anos e como presente aprendi fazer transformações. O porteiro capturou qualquer que passava e o trouxe a torre. A bruxa me ensinou e eu o transformei num sapo. Estou tentando sair daqui, então era ou a vida dele, ou a minha. Não tive escolha. Brianna acha mesmo que quero ser uma bruxa e está me criando como uma filha. Daquele jeito dela.”

Brianna está orgulhosa dos meus avanços. Mal sabe ela que não estou fazendo isso para agradá-la. Mas acho que seus cuidados não são de mães. Parece que está tentando me seduzir, pois tem me tocado demais. Mais uma arma contra ela.”

Plano:
- Seduzir Brianna.
- Colocar pó do sono no vinho.
- Quebrar sua varinha mágica (precaução)
- Transformá-la num sapo.
- preparar poção de invisibilidade.
- sair sem que o porteiro perceba, com o que puder carregar.

Não, não vou matá-la. Pelo menos devo todas essas lições de magia a ela. “Até que ela consiga desfazer o encanto, estarei longe.”

Aquela foi a última pagina do diário. Pelo visto deu certo o plano e ela não havia voltado para contar o resto. Ou não havia dado certo e ela não tivera a chance de viver para terminar a história da sua vida? Estava preocupado. Deveria tê-la salvado antes. Talvez antes que ela descobrisse tanta malícia. Abriu em alguma página no começo do diário, pois não acreditava que aquela menininha com medo do trovão, pudesse ser a mesma que seduziria uma bruxa, para transformá-la em sapo.

A bruxa disse que eu não chamo Marie. Meu nome é Deus do Oculto. Manda.”

O diário caiu no chão. Não precisava ler mais nada. O plano da princesa havia dado certo. E ela ali, bem do meu lado e eu não a percebi. Por que não me contou a verdade? Queria que eu a descobrisse por mim mesmo. Sempre esteve tão perto! E mentiu para mim dizendo que vinha de não sei aonde, sobre povoado destruído por igrejas e coisas do tipo. Estamos quites, pois eu não a salvei e ela mentiu para mim.
A noite anterior voltou à memória.
- É de mim que ela gosta. E eu tão confuso, pensando se poderia salvar Marie, tendo um sentimento por Manda, e elas são a mesma pessoa.
Desceu correndo aquelas escadas com tanta coisa na cabeça. Ela é uma princesa, eu posso me casar com ela. Nossa, é uma mulher tão encantadora, apesar de turrona e cheia de engenhos. E é linda, a mais linda dessa região, com toda certeza. Marie, princesa Marie...
Passou pela sala de Brianna correndo, trombando em tudo, sem ver nada. O sapo pulou a sua frente e o assustou.
- Sai pra lá, Brianna!
Saiu da torre.
- Manda! Manda!
Não havia ninguém em frente à torre. A carruagem também não estava lá. Correu e foi para estrada. O porteiro estava estirado no chão, com uma flecha em sua perna.
- O que aconteceu?
- A bruxa! Foi a bruxa Manda. Ela fugiu com a carruagem cheia de ouro.
Com muito ouro. Não foi difícil encontrar o cofre do palácio e dopar os guardas a noite. Talvez o mais difícil fosse encontrar um comparsa que acreditasse de verdade que ela iria dividir o ouro com ele e ainda por cima ganharia seu amor. O cocheiro real serviu para essa função. Se afastando cada vez mais de Arenosa, seguiu para algum lugar desconhecido, onde talvez esquecesse bruxas, torres e príncipes, sendo esse último o que mais gostaria de ter esquecido.
O príncipe olhou o fim da estrada, mais nada além do céu poderia se ver. Estava sozinho.

E viveram felizes para sempre.