Poucos lugares são mais incômodos que um ônibus lotado. Nele encontramos todos os tipos de pessoas possíveis: aquelas tagarelas que não param de falar da vida alheia, com uma voz enjoada, pessoas com um gosto musical incrivelmente ruim, que fazem questão de exibi-lo com um celular num volume muito alto, e outros que dormem alheios a tudo isso, trazendo o cansaço nas costas. Nesse dia, não pertencia a nenhum desses grupos. Estava alheia a muita coisa, mas estava acordada, olhando através da janela o movimento dos carros na rua.
Foi quando vi um adesivo em um carro escrito: “Jesus te ama”. Se fosse outro dia me passaria despercebido, contudo naquele momento uma pergunta me veio à mente: “por que essa frase é a mais conhecida dos cristãos, sendo que ela nem mesmo se encontra na bíblia?”.
Passei todo aquele trajeto pensando nessa questão. Essa frase realmente não se encontra nas Escrituras, se formos analisar. Na verdade, Jesus disse pouco sobre o amor Dele pela humanidade em seus discursos. Lembro-me que no livro de João 15:12 ele fala: “meu mandamento é que amem uns aos outros como eu os amei”, entretanto são poucos os seus discursos em que ele declara amar a humanidade de fato.
Isso me fez pensar no que Jesus acha que é o amor. Cheguei em casa e fui correndo até a bíblia. Abri no versículo áureo do amor, I Corintios 13. “O amor é sofredor, é benigno, não é invejoso, não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca seus interesses, não se irrita, não suspeita mal, não aceita injustiça e sim a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”.
Tendo lido isso, fui até outra passagem em João 14:15 no qual dizia: “Se me amardes, guardareis os meus mandamentos”.
Isso me fez concluir, o que de fato é o amor: é uma decisão de vida. Sempre quando é dito sobre esse assunto, trás consigo uma prova, uma ação. Portanto se Jesus tivesse dito mil vezes, “eu amo a humanidade”, e não tivesse feito nada por todos nós, tivesse morrido velhinho, em uma casa luxuosa em frente ao mar da Galiléia, com muito dinheiro; ninguém diria com tanta convicção: Jesus te ama ou ainda Deus é amor.
O amor retratado na bíblia na figura de Cristo, provém da palavra grega Ágape: o amor que faz algo por alguém sem esperar nada
Quando Jesus fala para amarmos uns aos outros, ele fala Ágape. Quando Ele nos diz para amarmos nossos inimigos, também é a palavra Ágape. Um amor que faz algo pelos outros, não querendo nada em troca, algo que não se resume a um sentimento, mas sim em uma decisão de fazermos o bem a outra pessoa, cumprindo os mandamentos de Deus. Jesus não queria morrer na cruz, tanto que os relatos no Getsêmani descrevem que Ele pediu ao pai para que “esse cálice fosse afastado dele”, contudo Jesus tomou uma decisão diante do momento de hesitação e se entregou, deixando cumprir em si mesmo a maior prova de amor do mundo, morrendo por nossos pecados. Por uma atitude, hoje todos os cristãos dizem, pregam, colocam adesivos nos carros com os ditos “Jesus te ama”. Não foram suas palavras, foi sua ação.
Posso concluir que o amor real é uma atitude, assim como Stanislavisk, um famoso teatrólogo do século XIX, falava que para gerar um sentimento no ator, era necessária uma atitude, Jesus diz que para gerarmos o amor, é necessária uma decisão e uma ação. Portanto, diante de tudo isso, vejo que nós cristãos precisamos reaprender sobre o amor e não apenas falar do amor Cristo, pois isso nem Ele mesmo o dizia quando estava na Terra. Devemos mostrá-lo em atitudes, gestos e testemunho de vida. A tagarela do ônibus precisa da minha atenção, o chato com o celular precisa do meu respeito, o cansado precisa da minha ajuda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário