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sábado, 14 de agosto de 2010

Conto de fadas Pós-Moderno

Ele se aproxima de mim e sabe o que falar. Me diz que sou linda, mas não como os outros: ele sabe a hora de dizer e como. Sorri e se interessa por meus assuntos, sabe me olhar nos olhos e também sabe a hora de escorregar seus olhos mais para baixo. E me envolve, me nutre de esperanças. Ele diz que acredita no amor, por mais que já tenha sofrido muito. Faz planos para o futuro e dá um jeito de me fazer interessar nesses planos, pois não sei porque esses planos se parecem com os meus. Chama para sair e sabe como agradar os meus olhos e todo o resto da minha percepção. O seu estilo me fascina e me orgulha, mesmo não sendo eu dona desse bom gosto. Bonito? Digamos, charmoso. Sim, ele sabe o que me dizer, como dizer e sabe como tocar e me toca.

Seu beijo me encanta e sabe exatamente como me fazer pensar em todas as coisas ao mesmo tempo. Me faz fazer o que nunca faria e como conseguir de mim a insanidade. Demoro para recobrar minha consciencia e tento não fazê-lo tão rápido para arrepender-me aos poucos. Por que? Vai ver ele é meu príncipe encantado que chegou para me salvar. Me salvar de que? Não sei.

Esqueci-me: não há mais do que ser salva. Tenho em minhas mãos agora a espada e o escudo, isso graças as outras princesas de meu reino cujos príncipes não vieram salvá-las. Viviam escravas em seus castelos por vilões tiranos malvados que as escravizavam e tiravam suas armas: a independencia e a voz. Agora, graças a essas Cinderela, temos nossos escudos e espadas e nos salvamos todos os dias de nossos próprios monstros. Mas agora meu sonho se realizou: tenho um príncipe que poderá lutar por mim.

Para isso ele pede a minha espada e meu escudo e eu os entrego prontamente. Para me proteger? Claro que não. Mas eu achava que era. Lá vai ele se exibindo com as minhas armas para impressionar as outras princesas, bruxas e o que passar na frente. Usa o mesmo discurso que me galantiou e isso me ataca e me fere.Me fere, porque eu acreditei. E descobri que esse era o vilão da minha história. Ao descobrir isso, vejo que o melhor é tomar minha espada e meu escudo de volta e sair sozinha de mais um vilão da vida.

E ele aparece. E eu nem o percebo. Como o perceber, ele está tão longe. Como o perceber, ele mal fala, não é tão bonito e nem tem um estilo glamuroso. É todo certinho e educado, e nem o noto, pois como olhar, se ele não chama a minha atenção?

Num momento estranho de coragem, resolve saltar aos meus olhos e fazer com que eu o note. E ainda com espadas e escudos, mesmo assim eu me deixo levar. Pela primeira vez vejo inocência num olhar, e verdadeiro carinho. Sinto o gosto do respeito vindo dele, e descubro finalmente! Sim, sim! Assim são os príncipes! Não me pede a espada e o escudo, pois nem sabe manejar uma arma. Não me diz galanteios, pois tem vergonha de os dizer e eu o achar piegas. Seu beijo é carregado de magia, a magia do respeito, algo novo, como eu nunca vi. E me faz sonhar, sonhar de desvendá-lo...

Mas os contos de fadas das princesas deste século são diferentes. Nesses contos voltamos para os nossos vilões e sofremos por eles e continuamos sofrendo pelos mesmos ou outros a vida inteira. Enquanto isso, príncipes andam desarmados e perdidos por aí, sem coragem de nos tirar dessa masmorra. E eu fujo a essa regra?

Meu príncipe, você ainda acredita nos "Felizes para sempre"?

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