- Acho que é perigoso ir por esse caminho.
- Mas ele não vai nos encontrar aqui. Vai ficar nos procurando um tempão. Não é assim a brincadeira?
- É, mas não sei... não me parece certo.
- Ah! Vamos, largue de ser boba, Marie.
Ela seguiu o seu amigo para um caminho em que nunca tinha ido. Marie tinha uma infância solitária no palácio, mas desde os 9 anos, havia encontrado nos amiguinhos súditos, companheiros para todas as horas. Ela era proibida de sair do castelo sem um adulto e de manter amizade com pessoas fora de sua classe social. Então seu contato com os amigos que fizera, era escondido de todos. Havia criado uma passagem secreta em que saía, sem que ninguém percebesse, e voltava sem ninguém ter notado sua falta. O palácio era muito grande, por isso era comum se perder por entre aqueles corredores. E aproveitando isso, saía e passava algumas horas brincando com os seus coleguinhas. Nesse dia brincava de esconde-esconde no fim da cidade.
Chegaram a uma casa em ruínas. Parecia abandonada há séculos.
- Venha, Marie. Vamos nos esconder ali.
Eles correram até a casa abandonada. Abriram a porta e constataram que não tinha nada além das madeiras da casa, que eram comidas pelos cupins. Fecharam a porta rapidamente, e para a surpresa de ambos, tudo mudou ao seu redor. Aquela casa de madeira úmida e descascada se tornou uma singela casa mobiliada e com lareira, e um cheiro suave de biscoitos que acabara de assar.
Uma velha de roupa preta vinha com uma assadeira cheia dos biscoitos aos quais recendiam o cheiro da casa. Muito amistosa convidou as duas crianças para comerem.
- Meus amores, estava esperando vocês. Sentem-se e comam biscoito com chocolate quente.
O garoto, sem hesitar, com a barriga roncando, sentou-se imediatamente na cadeira e foi logo pegando um biscoito com as mãos sujas de terra.
A velhinha logo bateu em sua mão com energia.
- Vá lavar a mão, moleque porco! Quer dizer, anjinho. É logo ali, e lhe indicou a cozinha.
Marie estava desconfiada.
- Quem é você? Não tinha nada quando entramos na casa.
- Sou Brianna, uma tia sua muito distante.
- Ninguém nunca me falou de uma tia chamada Brianna!
- Como disse, sou muito distante. Quantos anos você tem?
- De... – hesitou ao falar a idade, pois seus pais falavam a ela para nunca contar que havia feito aniversário de dez anos – nove. Tenho nove anos.
- Experimente um biscoito, vamos. Aproveite enquanto está quente.
Marie foi até a travessa. O cheiro estava delicioso. Estenderam as mãos à mesa para pegar um, afinal, não seria mal educado comer unzinho para experimentar, já que a boa velhinha insistia tanto. Lembrou-se de uma coisa.
- Ah! Não lavei minhas mãos!
Os olhos da velha se encheram de fúria. Abriu a boca preparando um berro, mas se conteve e sorriu.
- Sim, é verdade. É por ali.
Depois de um minuto, voltaram os dois e logo se sentaram à mesa para comer. E comeram com muita alegria aos olhos da velhinha sorridente. O chocolate quente era diferente de todos os outros que haviam provado, e o mais gostoso. E o biscoito dava vontade de comer sem parar, ainda mais para o amigo de Marie, que muitas vezes passava dias sem comer.
De repente, a visão dos dois embassa e não conseguem enxergar mais nada. Um sono os derruba instantaneamente e deitam ali mesmo na mesa, com a face nos seus pratos.
O garoto foi achado na porta da cidade. Marie nunca mais fora vista desde então. Viajantes contam que ela se encontra presa pela bruxa Brianna numa torre, em uma terra distante do reino de Córdoba. E a lenda dizia que apenas a coragem e audácia de um príncipe encantado poderiam salvá-la dessa maldição terrível.
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