Do pequeno reino de Arenosa, a torre da terrível bruxa Brianna podia ser visto. Era lá que estava a encantadora princesa Marie, no qual se havia várias lendas sobre sua beleza infindável e sua voz de canto doce. O reino de Arenosa, logo ao lado, era um vilarejo, povoado por uma maioria de humanos, mas também com alguns elfos e anões, que eram responsáveis pelo comércio na cidade. Os elfos de Arenosa tinham uma capacidade rara de negociação e eram conhecidos pela vantagem que levavam em qualquer negócio. Com seus conhecimentos mágicos, alguns deles também se dedicavam a química farmacêutica e a medicina. Os anões, assim como os elfos se dedicavam ao comércio, mas não por habilidade, mas por tradição de família. Todos eram membros de um só clã, os Eurok. Todos os outros eram humanos, bem dedicados a vida reta, recatada e cheia de tradições.
O rei do lugar, Henrique IX, ditava suas regras com mãos de ferro, e poucos a descumpriam. Conhecia cada habitante de seu reino pelo nome, e conversava com cada família, quando necessário, mantendo seu poder em suas mãos. Sua mulher havia morrido no parto e só lhe restara na família um filho, que cuidava com todas as suas forças: Henrique X.
Ela chegou pelas montanhas do norte. Era um mistério seu passado. Uma ameaça para o reino, segundo julgavam os habitantes de lá. Há muitos anos uma bruxa não cruzava as fronteiras de Arenosa. Até mesmo Brianna, com forte poderes, nunca havia entrado no reino.
A nova visitante não aparentava ser uma bruxa, mas chegou não causando boa impressão por seus costumes e uso indevido de seus poderes – poderes nos quais humanos comuns não poderiam ter.
Manda chegou na cidade causando má impressão logo de vista. Não usava vestidos, se vestia como um homem e os cabelos negros e longos se confundiam com sua capa que carregava nas costas. Enquanto andava a passos firmes, com seu coturno cano longo, as mulheres a observavam com temor e espanto, e os homens também com temor, mas com desejo pelos lábios vermelhos daquela mulher.
Entrou na pousada e pediu um quarto. Minutos depois todo o reino sabia onde estava alojada. Os dias se passaram, e a notícia da visitante indesejada chegou até o castelo. Os costumes de beber na taverna com os malfeitores da cidade e usar a magia sem responsabilidade, não agradou nada o rei. O príncipe então, se dispôs a levar as cortesias do reino para a misteriosa jovem.
- Ela não me parece uma bruxa, Walfredo.
- Tome cuidado. Presumo que ela possa estar numa espécie de encantamento para disfarçar sua real aparência.
- Preciso vê-la de perto. – apressou-se saindo de seu esconderijo entre as pedras e indo até a taverna, onde Manda acabara de entrar.
- Meu senhor, é perigoso. Os malfeitores da cidade podem...
Não adiantou. Henrique já estava na taverna e a única opção foi também entrar.
Anões cantavam uma música de piratas, ao som de uma melodia alegre. Enquanto isso pessoas nas mesas falavam alto, jogavam cartas e bebiam. Bebiam muito. Viam-se elfos, anões, ex-piratas, ogros, lobisomens – que se percebiam pela quantidade enorme de pêlos, mesmo durante o dia, e os hábitos primitivos de um verdadeiro cão. Prostitutas humanas e ninfas passeavam entre as mesas desfrutando dos carinhos de seus clientes. As ninfas prostituídas eram as mais queridas dos vilões da taverna, pelos truques mágicos que faziam nos melhores momentos. Porém, cobravam mais caro pelos seus serviços, por isso, logo se deduzia que a companhia de uma ninfa era pessoa de posses ou regalia de poucos dias na vida.
O príncipe virou o rosto para não ser reconhecido por uma ninfa que conhecia muito bem. Nisso, encontrou Manda sentada diante do balcão sozinha, na companhia apenas de uma taça de vinho.
Sentou-se ao seu lado, com todo o jeito especial que só um príncipe adquire, e perguntou, agitando o cabelo com uma das mãos:
- Por que vir a uma taverna como essa para beber vinho?
- E por que não?
- Eah, por que não?
Pediu um vinho ao garçom, que reconhecendo quem era, olhou espantado, mas logo disfarçou por ser repreendido pelo olhar do próprio príncipe. Manda percebeu, mas não falou nada. Tomava sua bebida com desdém.
- E o que a trás aqui em Arenosa? Pelo que vejo é nova aqui.
- Pensei que já soubesse sobre mim e minha fama, cavalheiro. Afinal, quem não sabe?
- Eu não sei, me conte. – e se aproximou da face de Manda, mostrando atenção.
- Se você se acha tão esperto assim, príncipe Henrique, descubra.
Deixou o banco e foi para uma das mesas em que estavam jogando cartas e nem mais lhe dirigiu o olhar. Esse desdém deixou Henrique aos nervos. A primeira vontade era de arrancá-la dali e obrigá-la a tratar com respeito um príncipe, mas julgou inadequado por se tratar de uma mulher e ainda não ter provas concretas de que é uma bruxa. Por recomendação do servo saíram daquele lugar; não sem antes ver Manda apostar e ganhar nas mesas de carta, com uma habilidade e confiança digna de poucos vigaristas da época tinha. E isso deixava o príncipe ainda mais intrigado. A mesma garota que vem a uma taverna beber vinho rouba nas cartas com maestria de um profissional.
- Qual é a desse cara, Troglodita? – Manda pergunta ao ogro companheiro de cartas na mesa.
- Ele é o príncipe Henrique, herdeiro do trono de Arenosa. Um filhinho de papai, riquinho, que acha que tem coragem, mas duvido que tenha tirado aquela espada da bainha algum dia.
- Não me pareceu tão covarde assim. Para ter vindo até aqui...
- E acha que nós íamos querer que ele morresse sem reinar? Não estamos nem aí para ele.
- Dizem que ele é apaixonado pela princesa Marie, que está presa na torre perto daqui. É louco por ela, mas nunca teve coragem de tirar a princesa de lá. – comentou um lobisomem que também jogava.
- Ou talvez queira curtir mais a vida antes de se acorrentar. – disse um anão, aos risos e contagiando a mesa, até causar gargalhadas.
- Princesa Marie?! Quem é essa?
E lhe contaram a lenda, com verdades, meias verdades e algumas invenções, assim como todas as histórias passadas por várias línguas. Manda escutava com atenção e ao mesmo tempo com o interesse de alguém que colocava uma carta na manga.
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