- Dê essa água ao seu filho o dia todo e vai ver como ele ficará melhor. Vai cortar o vômito e a diarréia!
- Oh! Muito obrigada, Manda! Não agüento mais vê-lo daquele jeito. Aceite isso. – era um bolsinho com ouro.
- Não, não vou aceitar. Ganho dinheiro de outra forma, fique tranqüila.
Despediu-se e fechou a porta, com um sorriso no rosto. Desceu as escadas e foi pela rua, rumo a sua casa. Cumprimentou um e outro, até ser abordada por uma de suas vizinhas.
- Oi, dona Judite! Onde estava?
- Fui no poço buscar água.
- Água? Como não te vi? Acabei de voltar de lá!
- É que fiz algumas outras coisas depois.
- Oh, sim! Já ficou sabendo?
- Do que?
- Aquela bruxa fez um feitiço para o Sr. Ramos e a plantação dele está morrendo.
- Não diga!
- Digo sim, anteontem ela foi vista lá na casa dele. E hoje um empregado da casa disse que as plantações de arroz estão murchinhas!
- Não seria pelo calor? Era tempo de chuva e não está chovendo.
- Vai ver ela está fazendo isso com o tempo. Quem sabe não é por ela que não está chovendo em Arenosa?
- Vai saber... Boa tarde, dona Márcia.
Entrou correndo em sua casa. Não poderia defender a bruxa. A água encantada da bruxa era o único remédio que poderia curar seu filho agora, por isso teria que correr esse risco. Mas o que seria de sua família se contar aos outros que foi ajudada por Manda? Arriscaria a reputação de sua família, por isso era melhor manter o segredo e ajudar sua culpa simplesmente não opinando sobre a integridade dela. E ela não tinha tanta integridade assim, por isso, um pouco de caridade não faria mal a ninguém. Culpou-se por pensar assim. Apenas despejou um pouco da água no copo e foi para o quarto, dá-lo ao filho.
Henrique já não podia ouvir falar em Manda. Tantas queixas de várias partes do reino. Não acreditava em metade, mas uma boa parte tinha a ver com o feitio de Manda. Era preciso tomar uma providência. Assim como ela chegou ao reino, era necessário que fosse embora, ou então a paz do lugar estaria ameaçada. Enviou guardas para prendê-la. Já eram denuncias demais, se não fizesse nada, se passaria por covarde.
Por esse motivo a levaram presa. Quando os guardas entraram na casa, Manda já sabendo o que estava acontecendo, não tentou resistir. Foi levada ao calabouço do palácio. No caminho, os cidadãos faziam festa pela sua prisão. No castelo, o príncipe e o rei aguardavam sua chegada.
Foi levada até a sala do trono. Parecia tranqüila, mas era ríspida quando algum guarda apertava demais seu braço. Ao entrar, logo viu o rei em seu trono e ao seu lado o príncipe. O rei olhava com desdém, enquanto o príncipe se revolveu no trono, mostrando um controlado nervosismo.
- Guardas, soltem a prisioneira. – ordenou o rei.
Eles a soltaram.
- Pois bem. Sabe por que a trouxeram aqui, não é?
- Não, não sei.
- Pois saberá. É acusada de bruxaria aqui em meu reino. E com toda a certeza aqui em Arenosa as bruxas não ficam impunes.
- E o que o faz achar que pratico bruxaria?
- Conhece esse livro?
Um dos guardas mostrou um livro volumoso, velho, de capa dura. Manda não respondeu nada.
- Foi encontrado na sua casa, junto aos seus pertences. Pelo que consta, é um livro das Bruxas de Salém, em que existem apenas sete cópias com as piores feiticeiras de todo mundo.
- Anda bem informado, oh rei. Sim, é uma das cópias do livro das Bruxas de Salém. Isso já me condena como bruxa?
- Não só isso, mas todas as denúncias de desordem que estão apontando a senhorita como autora. O que tem a dizer sobre isso?
- A minha única culpa foi pisar nesse reino de pessoas ingratas ao meu redor.
O rei, ao ouvir essas palavras se encheu de cólera e viu que não conseguiria arrancar confissão com uma conversa amigável.
- Guardas, levem essa mulher daqui.
Eles a tomaram pelo braço e a levaram para o calabouço. Antes de sair da sala, olhou para Henrique, o chamando pelos olhos.
Foi trancafiada naquela cela. Pensava em como escapar dali e se caso não escapasse, a fogueira seria sua morte certa. Já havia acontecido em outros reinos e naquele poderia não ser diferente. Enquanto pensava ouvia passos se aproximando. Era o príncipe.
- Falei para você que deveria ir embora.
- Por quê? Por que tenho um livro de bruxaria?
- Vai dizer que não cometeu nenhum dos crimes que é acusada?
- Você acreditaria em mim se falasse que não?
- Não acreditaria. Se não fosse bruxa, falaria naquela hora para o meu pai. Você é uma bruxa, uma maldita bruxa e eu verei você fritando na fogueira, como merece.
- Pois bem, assista ao espetáculo de camarote. Quem sabe isso não te dê coragem para resgatar aquela dondoquinha na torre!
- Henrique se enfureceu. De posse da chave, abriu rapidamente a tranca, entrou na cela, trancou. Com força prensou Manda contra parede.
- Lave a sua boca ao falar da princesa Marie.
Manda deu risada.
- Você tem medo da Bruxa Brianna, por isso nunca foi buscá-la. É um covarde. – disse isso olhando firmemente em seus olhos.
- Você vai aprender a dar a autoridade devida a um príncipe. – ameaçou apertar seu pescoço.
- E se eu quiser te ajudar?
- Ajudar? Não preciso da sua ajuda.
- Posso te mostrar os pontos fracos de Brianna. Você então resgata a princesa e eu ganho minha liberdade e saio desse reino.
- Sou um príncipe. É minha função destruir feiticeiras e quebrar feitiços. Não preciso da sua ajuda. Vejo você na fogueira, bruxa.
Saiu da cela transtornado. Manda continuou na mesma posição olhando Henrique sair. Estava frustrada.
Era madrugada. Manda não conseguia efetivamente dormir. Aquele lugar era horrível e não havia nem cama ou algo que pudesse dormir. Pelo demasiado cansaço cochilava no chão, mas o frio não a deixava ficar ali por muito tempo. Acordou de seu cochilo por um barulho.
- Eu aceito seu acordo.
- Henrique?
- É a sua oportunidade de fazer algo útil na vida. E também, se não cumprir o trato, mando você de volta a sentença de morte. Venha.
Levantou-se rapidamente.
- Fez uma boa escolha, não vai se arrepender. Eu sou sua, Henrique.
Essa fala fez com que ele se lembrasse do seu sonho na hora. Ruborizou-se, tirou os olhos dela.
- Vamos embora daqui. Você vai dormir no quarto de hóspedes.
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